terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Rosa-dos-Ventos - Chico Buarque (1970) - Visão Apocalíptica.

E do amor gritou-se o escândalo / Do medo criou-se o trágico / No rosto pintou-se o pálido / E não rolou uma lágrima / Nem uma lástima para socorrer

E na gente deu o hábito / De caminhar pelas trevas / De murmurar entre as pregas / De tirar leite das pedras / De ver o tempo correr

Mas sob o sono dos séculos / Amanheceu o espetáculo  / Como uma chuva de pétalas / Como se o céu vendo as penas / Morresse de pena / E chovesse o perdão / A prudência dos sábios / Nem ousou conter nos lábios / O sorriso e a paixão

Pois transbordando de flores / A calma dos lagos zangou-se / A rosa-dos-ventos danou-se / O leito do rio fartou-se / E inundou de água doce / A amargura do mar

Numa enchente amazônica / Numa explosão atlântica / E a multidão vendo em pânico / E a multidão vendo atônita / Ainda que tarde / O seu despertar

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