Desmembrado
do município de Limoeiro em 1871, Bom Jardim comemora, neste 19 de julho, 143
anos de emancipação política. Do seu vasto território originaram-se os
municípios de Surubim, Orobó, João Alfredo, Machados, Salgadinho, Casinhas e
Vertente do Lério, além de ainda ter cedido parte de seu território para a
formação de Macaparana e São Vicente Férrer. Com o topônimo de Bom Jardim há
várias cidades Brasil afora. Porém, com tão rica história e belezas naturais,
dificilmente haverá alguma que se iguale à nossa. Ser filho da “Terra da
Música”, hoje também conhecida como “Terra do Granito Marrom-Imperial”, é um
privilégio de poucos. Esta afirmação não objetiva causar inveja em ninguém – é
bom que se diga. Mas, que culpa nós temos de ter nascido neste oásis? Cidades
com o mesmo nome que nos perdoem, mas não ostentam cartões postais tão lindos
como os nossos, basta citar a Pedra do Navio, o sítio arqueológico da Pedra do
Caboclo, a Gruta de N. S. de Lourdes, entre outros. As demais Bom Jardim não
têm, enlaçando a cidade, um rio com o nome de Tracunhaém (palavra de origem
Tupi que significa “formigueiro” ou “panela de formiga”), cujas águas, às vezes
indomáveis, para retomarem o antigo leito, invadem algumas ruas, assustando os
moradores que buscam os morros para escapar da correnteza. Localiza-se em nosso
solo a Cachoeira de Paquevira, no rio Orobó, a nos brindar com a beleza
incomparável de suas mornas águas verdes, que espelham a exuberante vegetação
ciliar da natureza em derredor. Também as serras de João Congo, de João da
Hora, do Perigo e de Pedras com seus dorsos azulados, embelezando a paisagem. E
ainda o casario centenário, revestido de legítimos azulejos portugueses! Pelo
Natal, nossa vista se deslumbra e enternece ante os paus-d’arco floridos que
salpicam ladeiras e praças, atapetando tudo com suas flores cor de ouro. Da
igreja do Carmo, quando da celebração de alguma efeméride, o suave badalar do
velho e sonoroso sino cobre os quatro cantos da cidade, enchendo os corações de
ternura e melancolia. A musicalidade nos habitantes desta terra é uma
característica congênita. E é doce ouvir nas manhãs ensolaradas ou nevoentas, a
banda de música a percorrer as ruas, executando dobrados maviosos em alvoradas
festivas. Logo nos vêm à lembrança as retretas, nos coretos de antigamente,
animando as noitadas com suas valsas, dobrados, modinhas e tantos outros ritmos
inesquecíveis, que ainda ressoam em nossos ouvidos. E as serenatas, capazes de
fazer pulsar com mais ardor o coração das mocinhas sonhadoras, que acorriam suspirosas
ao parapeito das janelas, a fim de receber o afago das canções apaixonadas?!
Não, nenhum outro lugar poderá exibir tão extraordinário acervo. Terra de
artistas! As primeiras notícias da presença da Arte Dramática em Bom Jardim,
segundo informa o historiador Pereira da Costa, data dos idos de 1882, quando
foi criada a Associação Dramática, Familiar e Literária do Bom Jardim. Por
volta de 1896, foi fundada a Sociedade União Dramática Bonjardinense, cujo
objetivo principal era “recrear e instruir”… Alguns nomes merecem ser lembrados
por sua atuação no campo da dramaturgia, tais como Manoel Olímpio Souto Maior e
Ângelo André da Silva (já falecidos), assim como José Márlio Salviano, que
atualmente dirige o drama da Paixão de Cristo, encenado pelo Grupo de Teatro do
Bom Jardim no cenário natural emoldurado por velhos casarões; e o ator
Reginaldo Celestino, com atuação no Rio de Janeiro. Não se pode deixar de
recordar grandes vultos da nossa história. Foram tantos! Na política: Barão de
Lucena, Dr. Justino da Mota Silveira, Cel. Joaquim Gonçalves, Estácio Souto
Maior, Francisco Julião, Osvaldo Lima (pai e filho); nas artes: João
Evangelista Gomes de Castro (escultura), Francisco Sarinho e José Hugo de Paula
(artes plásticas), Levino Ferreira, Mestre Teté, Airton Lima Barbosa (música);
e mais: Israel Fonseca (poeta e jornalista) e Mário Souto Maior (folclorista e
pesquisador). A lista é interminável. Não poderia deixar de ser citado também o
nome de Bráulio de Castro, compositor múltiplo e compulsivo, que não para de
produzir, cujas composições chegam a mais de mil, metade delas gravadas por
grandes intérpretes da MBP. Faz-se mister destacar uma dessas personalidades:
Henrique Pereira de Lucena Filho, o Barão de Lucena, nascido no sítio Espera
(mesmo local onde nasceu Francisco Julião) a 27 de maio de 1835 e falecido no
Rio de Janeiro em 10 de dezembro de 1912. Monarquista convicto, muito
contribuiu com a Princesa Isabel para a aprovação da Lei Áurea, sendo por ela
condecorado com o título de barão. Em sua trajetória política, exerceu vários e
importantes cargos. Foi ministro do Supremo Tribunal de Justiça e, durante o
governo republicano do Marechal Deodoro da Fonseca, ocupou os Ministérios da
Agricultura, Fazenda e Justiça. Na monarquia e no período republicano presidiu
ou governou os estados de Pernambuco (duas vezes), Bahia, Rio Grande do Sul e
Rio Grande do Norte. Vale a pena concluir este texto com a transcrição dos
versos ufanistas do poeta-repentista conterrâneo João Pedra Azul em uma de suas
cantorias:
Digo com soberba e tudo: Sou filho do Bom Jardim / Inda não nasceu no
mundo/ Cantador pra dar em mim; / Se nasceu, não se criou, / Se se criou, levou
fim…
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