O seu lugar preferido era o terraço da casa: Lá existia uma mesa onde sempre havia revistas Veja e Isto É da semana anterior e jornais do dia (aprendemos o hábito de ler contigo), um pequeno ventilador Arno Junior, a carteira de cigarros e o imprescindível cinzeiro. A sua indelével imagem sempre sentado com sua camisa de botões e bolso (homem não tira a camisa por cima da cabeça). Mas toda essa descrição é apenas o lado material e físico, o essencial a fotografia não capta:
A grande verdade é que hoje não é só mais domingo sem você, é o primeiro dia dos pais após a sua viagem para encontrar na pátria espiritual os teus pais, mamãe e Dário. Hoje não receberás os abraços, os inúmeros CDs de Jackson do Pandeiro, Nelson Gonçalves e Orlando Dias. O de Chico Pedrosa comprei dois e hoje tenho a oportunidade de ouvir um dos seus casos preferidos: O Guarda de Sapé.
Você sempre contando estas histórias e casos que você tantas vezes repetiu com graça e ternura se revezando com algumas piadas conhecidas suas ou dos filhos (também herdamos a verve pelo humor contigo) e as intermináveis histórias de suas viagens na boleia dos caminhões e das figuras pitorescas e curiosas que povoaram sua juventude e que sempre tiveram como platéia atenta os seus de filhos, noras e netos, que disputavam a sua atenção como ponto central de tudo e isso só quem vivenciou o privilégio de compartilhar sabe o valor: São fragmentos de nossas vidas que o tempo não apaga jamais.
O que na minha mocidade julgava passividade, mais tarde entendi que era apenas seu modo mais sereno de ser e encarar a vida sem tantos sermões diante dos seus e nossos desacertos na vida e muitas vezes seu silêncio e o nosso respeito a ele nos dizia e ensinava muito mais que mil palavras.
Quando senti que o cansaço da luta te tirava as suas forças e o desânimo poderia se instalar, passei o livro “O Velho e o Mar”, mas não tinha a certeza se o leria, apenas que a mensagem de otimismo ali inserida representava muito do que eu queria te dizer... Lembro de um cartão que comprei para você num dia dos pais dos anos noventa onde deixei meus sentimentos falarem com todo força e escrevi à punho (imitando tua belíssima caligrafia) que: ... No mais nessa vida só desejava ter a sua hombridade, honestidade e ser exatamente igual a você.
Sabe pai, esses momentos me fizeram tão mais próximo de você e orgulhoso que até senti uma pontinha de vaidade por meus irmãos não terem o privilégio de compartilhá-los, só eu... Mas com certeza você proporcionou tantos outros a eles que também não pude desfrutá-los particularmente e com a sua ausência, ficamos aqui, como você dizia: Mais desaprumado do que carreira de pato...
- Quequiá? Quequiá de novo?
- Tudo velho e as novidades são as mesmas...
Apenas a imensa lembrança, a saudade que corrói e maltrata aqueles que te amam e oram para que o Criador te conceda muita luz nesta tua caminhada de aprendizagem e evolução.
... Naquela mesa está faltando ele e a saudade dele está doendo em mim...
Sérgio Vieira de Melo – Bom Jardim AGO 14, 2011
Dia de domingo com visita tem até palito na mesa!
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